domingo, 27 de março de 2016

Cheguei à conclusão que eu sou uma ameba

Como vocês conseguem se importar e viver ao mesmo tempo?

Eu me importo pra caralho mas toda vez que tou vivendo eu penso que se me importasse de verdade estaria fazendo alguma coisa útil em vez de, bem, viver. Então chego à conclusão de que não me importo de verdade. Aí, me convenço de que não me importo. Me convenço de que não iria conseguir fazer nada útil mesmo que me importasse. Então não faço nada mesmo.

Mas na prática, isso não facilita meu viver. Apenas faz com que eu faça tudo com remorso.
Eu podia tar acabando com o racistas e tou aqui lendo um romance inútil. Eu podia tar denunciando abusos e tou aqui jogando esse jogo idiota. Eu podia tar disseminando a revolução e tou aqui deitada encarando a parede. Eu podia tar pregando a autonomia e tou aqui rindo de gifs no tumblr. Eu podia tar destruindo homofóbicos e tou aqui inventando quarenta e duas formas de bagunçar com as gatas.

Como vocês conseguem dormir e se importar com o sexismo? Como vocês conseguem transar e se importar com o racismo? Como vocês conseguem comer e se importar com a homofobia? Como vocês conseguem amar e se importar com a revolução?
Eu me sinto hipócrita. Muito. Tem um ser dentro de mim me julgando dizendo 'Se você se importasse mesmo estaria lá lutando e não aqui vendo série no netflix'. Esse ser passa o dia todo sussurrando varias fitas. E todas elas provam o quanto eu sou inútil, o quanto eu não me importo, o quanto eu sou passiva, o quanto eu não faço e nem farei diferença nenhuma pro mundo.
O dia todo. O tempo todo. Todos os dias. Com meu cérebro me bombardeando de motivos pelos quais não adianta eu fazer nada mesmo, não adianta eu fingir que tou fazendo algo útil aqui e ali de vez em quando. Na prática eu não tou fazendo nada útil. Na prática eu não faço mesmo nada útil porque sei que tudo que sei fazer é inútil.

Eu sou uma pessoa teórica. Se desse pra minha existência estar no plano das ideias ela estaria. Eu estaria. Eu tou sempre pensando. Refletindo. Teorizando. Inventando ideias. Não escrevo nada. Raramento falo pra alguém. [o que é engraçado, porque, de fato, a porcentagem do que eu falo com pessoas em relação ao todo que eu penso é tão pequena, de verdade, muito pequena, apesar de parecer que eu falo muito.] Não estudo nada. Não leio nada. NÃO LEIO NADA. Por Satan! Toda teoria revolucionária que move minha cabeça eu invento dos meus pensamentos, baseados na minha noção de justiça. Eu li uma coisa aqui e ali. Quando eu leio, que é quase nunca, é pra confirmar se realmente essa conclusão que eu cheguei vai de acordo com sei la qual autor de sei lá qual corrente política. Pelo amor de luci, quando eu descobri que Marx não curtia a propriedade privada eu fiquei chocada: 'nooooossa, se pá isso que eu penso é marxismo' [não era]. COMO RAIOS a cabeça de um ser humano pode funcionar desse jeito? Quero dizer. As pessoas normais tem cabeças que não funcionam dessa maneira, certo? Na real eu tou começando a duvidar. Talvez a cabeça das pessoas funcione assim mesmo. Você pensa algo. Fala pra alguém que você pensa algo. Esse alguém te diz que aquele autor já escreveu sobre algo. Aí você lê aquele autor e descobre que concorda com ele.
É assim que as cabeças funcionam? Pra mim faz muito sentido, na verdade. Talvez devesse ser assim mesmo. Apesar de que é possível que pra mim só faça sentido porque minha cabeça funciona assim.

Mas não se empolgue. Eu raramente chego na fase de ler pra tirar a prova efetiva da suposta concordância entre o autor e o meu pensamento. Por isso não sei qual vertente do feminismo eu sigo. Não sei qual vertente do anarquismo eu apoio. Não sei quais autores corroboram com a maioria dos meus raciocínios.Por isso eu não consigo [acho eu] enxergar minhas incoerências. Por isso eu não consigo de fato fazer nada do que acho que deveria ser feito.

É em resumo. Eu não faço nada. Não vou fazer nada. Vou viver de nada. E devia ter escolhido mesmo qualquer outro curso da minha lista de cursos que eu queria fazer por pura curiosidade, devia tar na biologia, na geologia, na química, na física, na matemática, qualquer uma; mas não, eu achei que sociais ia me guiar no sentido da revolução. Hah.

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